12.19.2005

MUDANÇAS


Ah pois é. Fomos informados de que há mudanças em perspectiva. Para já, LTL estrá fora das manhãs durante não se sabe muito bem quando, ao abrigo de um plano de rotação. Ainda não sabemos muito bem o que é que se vai passar nas manhãs, mas em Janeiro haverá uma espécie de novo figurino, pelo menos no que diz respeito à decoração e acessórios. Música para respirar não faltará e o resto estará em cogitação. Até lá, o blog vai ficar em animação suspensa enquanto caminha inexoravelmente para os últimos estertores, que decidiremos na altura própria. O blog das manhãs era, e ainda é, mais ou menos, um projecto meu e da LTL. Com a saída dela, não fará muito sentido continuar... Até porque o site da oxigénio já está em funcionamento e em princípio crescerá em termos de dinâmica.

A todos um bom natal,
a todos um bom natal,
Desejo um bom natal, para todos vós,

(e em especial ao coro de santo amaro de oeiras)

12.02.2005

POSTO ISTO - Ditador de Auto-Rádio



Ditador de Auto-Rádio
Os carros são como pequenos países: têm fronteiras (portas e vidros), um governo (condutor), população (passageiros) e lei (a música). Como tal, podem ser vários os regimes políticos encontrados e em todos eles a lei é controlada forma diferente.
A nível pessoal devo dizer que tenho uma espécie de regime totalitário instalado dentro da viatura, sou o que se pode chamar um ditador de auto-rádio; controlo a lei à minha maneira e não admito opiniões sobre as escolhas. Muitas vezes a população protesta, mas não há muito que possa fazer, não existem votos nem eleições…o máximo que pode acontecer é baixar um pouco os impostos (volume).
O pior acontece nas visitas oficiais a outros países onde um ditador orgulhoso terá imediatamente tendência adaptar a lei à sua vontade. Aqui existem dois cenários possíveis: se estamos perante um país passivo e tolerante este será imediatamente anexado, sendo a Constituição (programação do rádio) abolida para imperar um regime ditatorial temporário com a inclusão de novos artigos (postos de rádio) de difícil refutação [existem auto-rádios bastante manhosos de (des)programar]; se por outro lado é encontrada uma liderança mão-de-ferro teremos provavelmente um conflito armado ou um imbróglio diplomático em que, em última análise, não restará hipótese senão chamar o exército (CD ou K7).
Um ditador frio e calculista, com informações de antemão (se souber que a sua estadia será mais prolongada) trará consigo as devidas munições, ainda que sonegadas serão um trunfo que pode, na pior das hipóteses, amenizar a confrontação chegando-se aí a um acordo de rotatividade; em caso de falta de armamento, ou resigna-se com um sorriso amarelo olhado ao longe para os países vizinhos ou entra numa ruptura total, caindo o país numa anarquia (não há música para ninguém e desliga-se o rádio).
Uma tipologia autoritária bastante abundante parece ser a versão “Imperador Louco”, onde uma confusão entre a sua pessoa e uma entidade divina leva a uma tentativa de conquista/reconhecimento do espaço sideral (estradas e ruas) pela emissão de sondas com alto valor sonoro, disparadas por canhões (woofers) de grande potência. As consequências desta actividade (tuning) resultam muitas vezes no desagrado demonstrado pelos países vizinhos ou, em casos extremos, no internamento numa Instituição Comunitária (Polícia).
Aviso: convém lembrar que todas as ditaduras acabam por cair, seja por causas externas (namorada/o) ou por golpe de estado (família)…e que o Povo Unido…

Mário João Camolas

11.29.2005

DISCO - ALICE RUSSEL



Alice Russel já demonstrou que tem um talento enorme e uma voz capaz de arrepiar o ouvido mais empedernido. Depois das co-operações com Quantic, Quantic Soul Orchestra e TM Juke, e antes da fantástica versão de “7 Nation Army” dos White Stripes feita a meias com Nostalgia 77, lançou “Under The Munka Moon”, onde comprovou à saciedade que é uma cantora vintage, com porte de diva e voz a condizer, emocionante, negra e versátil.
A estes dotes que por si só bastam para encher uma canção, junta o bom gosto na escolha dos produtores/artistas com quem trabalha e a quem também inspira. O novo álbum de Alice chama-se “My Favourite Letters” e leva-nos numa viagem ao seu país das maravilhas, no caso, sonoras. Nitidamente mais segura e confiante do que na estreia, Alice passeia-se pela memória passada e presente da música negra, e pela mão de TM Juke, por coordenadas de funk e soul, à deriva entre o rare groove e a pop, com contaminações de jazz, bossa ou gospel, entre os arranjos grandiloquentes ou a intimidade de um Rhodes. Depois de um bom disco e de um muito bom disco, não restam dúvidas de que será sempre a sensibilidade sonora e a escolha do(s) cumplice(s) para a composição e produção que farão a diferença, porque a voz está lá e cada vez melhor. Resta saber qual será a evolução musical e a visão de Alice Russel nos próximos tempos, mas isso ninguém poderá prever. Até lá, onde e quando for, não nos faltarão motivos para ouvir Alice Russel. Não sejam maus para ela...

11.25.2005

UMA AGULHA NO PALHEIRO



Os gostos, em geral, são bastante discutíveis. No panorama musical, então, estarão quase ao nível da paixão futeboliostica. O que no caso que motiva esta prosa, 11 anos de Compost e mais uma colectânea, vem mesmo a propósito, uma vez que o mentor e patrão da editora de Munique, Michael Reinboth, é adepto de ambas as modalidades e sofre de clubite.
Umas vezes melhor outras pior, a verdade é que a produção musical que intersecta a zona de influência electrónica é tão grande que mesmo nas fases menos inspiradas há sempre motivos de prazer e devoção.
Neste competitivo mundo da industria musical é dificil manter uma editora activa e saudável, interveniente e definidora, mas a veradde é que a Compost, tem compensado as inevitáveis desinspiração, redundância e insipidez com rasgos iluminados e alguma capacidade de regeneração e surpresa, sendo no meio termo, o da qualidade e interesse mininimos exigiveis garantidos que têm ganho a guerra e a permanência no campeonato dos valores seguros.
“Freshly Composted”, a colectânea que temos em mãos, é um reflexo de tudo o que dissemos anteriormente. Dizem os responsáveis da Compost que nesta edição duocentésima, comemorativa, portanto, encontraremos uma agradável perspectiva dos 12 polegadas que editaram recentemente e pistas para futuros lançamentos. A verdade é que em 14 temas, há quatro cinco que verdadeiramente valem a pena e os outros são assim, assim. Isso é mau, pensarão vocês...
Não, na verdade é mais do que normalmente se encontra nas colectâneas que vão saindo e aqui, além da versão remistura de Product o1 para “Heart of Glass” de Blondie (Em tempos de disco sound revival, depois de Madonna vs Abba, Boney M e Village People em coreografias geriátricas, aí está um floor killer/filler a prometer dinheiro em caixa e um fiozinho de azeite a temperar a dieta musical recente), há Sirius Mo e Beanfield em grande forma na mesa de remistura e Capital A igual a ele próprio(olhó futebolês), ou seja muito bom, e ainda a promessa Muallem.


Vários "Freshly Composted"

11.24.2005

POSTO ISTO 3 (O HOMEM RULA!!!)



Porque o revivalismo tem destas coisas.
Na incessante busca pela originalidade a tecnologia serve a moda e vice-versa. No entanto, o revivalismo marca uma presença constante como que a evitar que nos esqueçamos do que se passou e a servir os nossos propósitos territoriais, isto é, afirmamos que buscamos algo novo mas relembrando as raízes através da sua reciclagem.
O paradoxo acontece quando acabamos por ter nostalgia de produtos/objectos que nem sequer primavam pela qualidade. Este é o caso da cassete.
Hoje praticamente um objecto obsoleto (menos para a indústria portuguesa da Produção Involuntariamente Musical de Baixos Atributos qualitativos), foi o Mp3 de uma geração em que o Soulseek/Emule/Kazza era o nosso vizinho do lado, o amigo, o amigo do amigo, o amigo da amiga do primo...e por aí fora numa rede cruzada que poderíamos chamar…internet?
As gravações de vinil - depois Cd - para K7 não eram práticas (apesar de alguns terem conseguido aperfeiçoar a arte do mixtaping) e sobretudo eram ilegais - como todas as mudanças de formato ainda o são - mas isso preocupava tanto como copiar em casa filmes de vídeo para vídeo. Porém, são dois dos ingredientes básicos para a categoria vintage.
O jogo é este: ninguém tem um iPod = excelente, sou 100% original; alguns têm um iPod = muito bom, somos uma classe; muitos têm um iPod = satisfatório, mas começam a copiar-nos; todos têm um iPod = vamos voltar ao walk-man?
Daí esta página:
http://hanazuc02.ld.infoseek.co.jp/cassettes/cassettes.htm
O que se segue? Cartuchos? Vinil a 78 rpms? Cilindros de cera?

Mário João
www.freewebs.com/disparo

11.23.2005

GANDA FESTA!!!!!!!!!!!!!!



Jamie Lidell começou por ser mais um tipo estranho e obscuro numa editora marginal e maldita, a Warp. Hoje, ambos gozam um invejável e inesperado sucesso. Curiosamente, tanto Lidell como a Warp alicerçaram a sua reputação no experimentalisto torcido e declarado e conquistaram, têm vindo a conquistar as massas, paulatinamente, com o reconhecimento do chamado publico alternativo mas também com uma aproximação formal, da estética sonora, mais acessível e imediata, ainda que não menos transgressora nem subversiva, ao consumidor mais “mainstream”.
No início, o pequeno James estudava música, tocava percussões e outros instrumentos e não resistia ao apelo da electrónica. Estudou física, tirou o curso, apanhou um febrão pelo caminho e um dia, em que virou à esquerda em vez de seguir em frente, encontrou a filosofia e provavelmente até terá trocado algumas ideias sobre o assunto. Ou seja, ao contrário da maioria dos jogadores de futebol, conseguiu conciliar a formação académica com a paixão musical e felizmente optou pela segunda.
Estreou-se com o álbum “Muddlin' Gear” e foi internado na ala psiquiátrica da electrónica. Como profilaxia e tentativa de cura, propuseram-lhe audições para os “Commitments” de Alan Parker, mas preferiu dedicar-se à terapia de grupo com Cristian Vogel e surgiram os Supercoolider. No mesmo ano, 1999, editaram “Head On” e Lidell iniciou-se na vertigem do groove, numa espécie de space funk odyssey com alma . Nunca mais recuperou. “Raw Digits”, o segundo álbum, cumpriu a expectativa de sublimação do dark side da soul de Jamie Lidell, e depois da colaboração com a Mathew Herbert Big Band percebeu-se que algo de muito importante estaria prestes a eclodir na sua vida... Terá sido a remistura que fez para The Audience, de Matthew Herbert, a pedra de toque. Lidell utilizou um programa de randomização de palavras e foi combinando aleatoriamente as sopas de letras originadas até dali surgir algum sentido. A nova letra foi agora usada no tema “Music will not last”.
Com a recente edição de "Multiply", Jamie Lidell o antigo agente provocador ao serviço da electrónica radical, transmutou-se (diríamos memso galvanizou-se) e assumiu o soul man que sempre existiu dentro dele. O resultado foi o aplauso unânime, conquistando criticas favoráveis em todo o lado. Capa da Wire, páginas na Straight No Chaser, Dazed and Confused, Pitchfork ou no Guardian, contribuiram para o reconhecimento do público e em Portugal, mostrou o que valia de pijama vestido e chinelos de quarto revelando uma alma do tamanho do mundo e uma disponibilidade para o espectáculo/ entretenimento magnética e contagiante. Tanto no disco, como em palco, desnuda a alma e dá o corpo ao manifesto, cresce e multiplica-se e afirma-se como soul man capaz de fazer as delícias dos fãs de Otis Redding, Marvin Gaye, Stevie Wonder, Sly Stone, Prince, Funkadelic ao mesmo tempo que é comparado a D'Angelo e até aos Jamiroquai. Enquanto isto, não perde adeptos na secção da weird electronica. Tudo arranjado e subtilmente torcido por uma estrutura musical que assenta que nem uma luva na voz quente, cheia e expressiva de Lidell, mas que apesar do apelo pop e química imediata não se verga a quaisquer tipo de cânones do "mainstream" (até porque á algumas excepções à estética soulfoul dominante, arritmias, rare funk groove, pequenas trips psicadélicas, como pisacares de olho em sono rem, torrões de afro-beat, ...), continuando ( como nos filmes de terror, há sempre uma centelha de mal que nunca se extingue...) a assumir a necessidade de inventar e surpreender, ainda que mais subtilmente.
Um disco fantástico que poderá surpreender apenas quem não ouviu com atenção o último álbum de Supercollider, ou não reparou que no melhor da aventura jazzística da Mathew Herbert's Big Band constava o aviso cantado por J.L, "Everything Changed".
Tudo mudou para ainda melhor. Ao vivo tudo pode acontecer. Ele já nos avisou. Alimenta-se do público. Portanto, preparem-se, sábado, festa oxigénio, com Jamie Lidell à solta no Sabotage a fechar os concertos às quatro da manhã.
À meia-noite há Who Made Who, às duas, Jackson and His Computer Band. Pelo meio e até ao fim há DJ's Oxigenio All Stars.

11.17.2005

POSTO ISTO 2















Twin Freaks



Cada geração tem o seu Paul McCartney: para uns, um Beatle certinho/psicadélico, para outros, uma das asas dos Wings ou apenas um profícuo cantor/compositor a solo. O “meu” Paul cantou como ursos e sapos animados em “Rupert and the Frog Song “ e fez dueto com Michael Jackson em “Say Say Say”; durante anos esses 7” rodaram no meu gira-discos portátil caindo depois no arquivo da mental (para mais tarde recordar com nostalgia).
No entanto, essa indiferença virou interesse depois de ouvir uns pequenos samples de “Twin Freaks”. Em 2004, num rasgo de criatividade Freelance Hellraiser (autor em 2002 do mash-up “Stroke of Genius” ou The Strokes vs. Christina Aguilera) animou todos os 25 minutos que antecederam os concertos da tour europeia de McCartney com um Dj Set de remisturas da sua autoria sobre composições dos anos 70 e 80 do ex-Beatle (rodaram por Portugal, suponho…mas o Eu Vou não me levou a Ir ao Rock in Rio). Uma readaptação com bastante êxito que aponta tanto para o consumo interno como para as pistas de dança.
O impacto das actuações proporcionou a sua edição em Junho de 2005 pela Parlophone/EMI – apenas em vinil. O projecto bicéfalo “Twin Freaks” ganhou assim forma física num duplo LP (com ilustração a cargo de Paul McCartney) e de prensagem limitada que tive a sorte de encontrar perdido na secção vinílica de uma das discotecas de Lisboa.
Um achado.
Alinhamento & mais info aqui:


http://www.twinfreaks.net/

ass: mário joão

POSTO ISTO 1


Gosto particularmente de excerto/manifesto de Platão... 0briga-nos a pensar de outra forma ... nas relações humanas ou outros afins... de que matérias somos feitos...Eu sei que é longo mas constitui um pensamento. Aguardo a vossa recensão crítica...numa espécie de existencialismo Vergíliano (Ferreira) :-)

(...)parece-me que os Homens ignoram a força de Eros; se conhecessem construir-lhe-iam templos grandiosos e altares, far-lhe-iam sacrifícios sumptuosos;para já nada de tal em sua honra, quando isso é que seria preciso. Ele é, de todosos deuses, o mais filantropo, o protector dos humanos e médico de males que, sefossem curados, resultaria daí a mais perfeita felicidade para a raça dos homens. Tentarei, portanto, expor-vos a sua força e em seguida ensina-la-eis aos outros. Mas devo, em primeiro lugar, falar-vos da natureza humana e das suas paixões. Com efeito, a nossa natureza original não era o que é hoje, longe disso. A princípio havia três géneros entre os Homens e não dois como hoje, o masculino e o feminino; um terceiro era composto dos outros dois: o seu nome subsistiu, mas a coisa desapareceu: então, o real andrógino, espécie e nome, reunia num único ser opríncipio macho e fêmea; agora já não é assim e só o nome ficou como uma injúria. (...)



Platão, in Banquete

Ana Costa Pereira :-)

Se quiserem ler o resto, procurem em http://somatotopia.blogspot.com/